Difícil falar sobre amizade. Pelo menos pra mim. Venho pensando neste texto há mais de uma semana, e agora que coloquei no papel, percebi o quanto meu pensamento está confuso. O título refere-se a perdas porque pra mim a amizade está atrelada a perdas. Não só da pessoa do amigo, mas perda de uma época, de um modo de viver, de um carinho particular, de instantes de descobertas tão incríveis... perde-se muita coisa quando se perde um amigo.
Já ouvi várias vezes que se a amizade for sincera não acaba, mas acho que isto é uma bobagem. Já vivi diversas amizades sinceras, profundas, intensas, que foram inteiras, e não apenas amizade . Acontece que as pessoas mudam, o mundo de cada uma pode se diferenciar e elas em consequência se distanciam.
Talvez tudo o que eu disse até agora seja uma maneira de justificar a mim mesma que é natural isto de as vicissitudes da vida separar as pessoas e me consolar com relação a dor que eu sinto quando alguém vai embora.
Tudo isto porque perdi mais uma amizade. E pelo mesmo motivo que já perdi outras. É aquela velha história: a gente erra tentando acertar. Você vê algo errado, quer abrir os olhos da pessoa, e ela cega, prefere se afastar porque não ver é mais confortável. Aí você insiste, porque quer o melhor para pessoa... Aí já era, perdeu o amigo (a)!
Mas não quero falar dos acontecimentos, prefiro dizer sobre os sentimentos.
É impressionante como a verdade às vezes sufoca, aperta, quer silenciar! E acaba até afastando as pessoas umas das outras. Talvez o erro seja meu mesmo, por insistir na verdade. Talvez eu devesse me calar, já que cada um decide sobre a vida que quer levar, cada um é responsável por suas escolhas, e a minha opinião acaba sendo tão pessoal, já que é tudo tão relativo... é tudo tão incerto... é tudo tão louco... é tudo tão vasto... e é por isso que me perco dentro de mim... E que atire a primeira pedra quem nunca entrou no meio de um labirinto frio, sombrio, de vidros, de espelhos.Quem nunca errou?
E eu no meio deste labirinto só desejo que todas as pedras atiradas pelos atores, e pelos hipócritas atinjam fortemente todas as minhas vidraças e todos os meus espelhos, assim não preciso tentar descobrir se há verdade no rótulo de feio ou no de bonito, de amigo ou de colega, de bem e mal com os quais me rotulam, inclusive eu mesma, sempre variando com meu estado de espírito, com a minha chatice, com a minha arrogância, com a minha alegria, com as minhas máguas... porque, no fundo, só saberemos conviver quando soubermos abstrair tudo e nos despirmos de conceitos e de opiniões tão particulares, tão subjetivos, e de tantos preconceituosos e vazios...
Mas este não é o sentimento mais confuso. O sentimento que descompassa tudo é a paixão. Tenho esta característica, me apaixono por pessoas, por olhares, por sorrisos, por histórias, por vidas, por causas... E quando eu perco, sinto a necessidade do colo que vivo oferecendo. O que ameniza é que eu nunca desisto, só de sacanagem também. Mas acho mesmo muito mais fácil lipoaspirar o complexo do que as gordurinhas indesejadas.
Muitas vezes me acontece de indagar ao céu: "Quantas vezes, minha confiança vai ser posta à provaaa?!?" Será que eu preciso ser cautelosa, mais prudente, ir mais devagar para não sentir tão forte a dor da perda. Já tentei fazer isto, e sabe o que eu penso hoje? : - Dane-se a prudência! Ela nunca me salvou das dores. De nenhumazinha sequer.
E no fim fico aqui, sem entender nada, competindo com a natureza e chovendo mais... Mas hoje aprendi a aceitar que a vida é isto: natureza, mudança, transição, chuva, sol, primavera, lagoa, borboleta, altos e baixos, idas e vindas... E é certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, e até para fortificar a amizade. E isto só prova o quão atemporais são os sentimentos, as dores, as indagações, as ironias, os medos, as reticências...
by Rozy Fazendoartes