Desde muito jovem, o capixaba Augusto Ruschi (1915-1986) adquiriu o hábito de coletar plantas e animais para estudá-los. Esse hábito lhe valeu a fama de excêntrico. Autodidata, o naturalista recebeu, aos 22 anos, o convite para trabalhar no Museu Nacional, no Rio de Janeiro.
Ruschi dedicou-se durante quatro décadas ao levantamento da fauna e da flora da Mata Atlântica. O resultado disso foi a publicação de cerca de quatrocentos trabalhos científicos. Entre eles, os dez volumes da coleção Aves do Brasil, em que estão repertoriadas mais de 2,6 mil espécies e subespécies. Conhecido como o "cientista dos beija-flores", Ruschi descreveu cinco espécies e onze subespécies de colibris.
Também são famosos seus estudos sobre orquídeas e sobre o impacto ambiental de grandes projetos industriais no Espírito Santo e os riscos de desertificação na região.
Em 1973, ele comprou uma briga com ninguém menos que o governador desse estado, Élcio Álvares. O motivo era a preservação da reserva biológica de Santa Lúcia, mata remanescente de seu município natal, Santa Tereza.
É nessa reserva que Augusto Ruschi está sepultado. Após seu falecimento, recebeu da Câmara dos Deputados o título de Patrono da Ecologia no Brasil.
Pajelança
Durante suas excursões, Augusto Ruschi contraiu diversas doenças tropicais. Essas doenças debilitaram ainda mais seu organismo, que já sofria de insuficiência hepática grave, com cerca de 70% do funcionamento do fígado comprometido.
Cinco meses antes de seu falecimento, em 1986, o naturalista se submeteu a uma pajelança, que é um ritual indígena, para curar-se do veneno de um sapo da espécie Dendrobata que o teria atingido no Amapá.
Após ser tratado pelos pajés Raoni, da tribo txucarramãe, e Sapaim, da tribo camaiurá, Ruschi disse ter encontrado o antídoto do veneno e que trataria seus problemas de fígado pelos métodos convencionais. Segundo os médicos, sua morte foi provocada por cirrose hepática.