Entrevista (VEJA) do médico que operou o Presidente Bolsonaro.
Por que acha ter sido indicado pelos colegas para cuidar do presidente?
Não se trata unicamente de competência técnica. Era uma situação dramática em diversos sentidos. Eu tenho um autocontrole muito grande. Não fico nervoso por nada. Sei que para tudo tem solução. Há dez anos, introduzi a cirurgia robótica na área gástrica. Era o ano de 2008, havia pouquíssimos aparelhos e profissionais especializados. Pedi para treinar com os aparelhos que eram usados em operações da próstata. Passei um ano inteiro indo ao hospital durante todos os domingos de manhã, sem faltar um dia, só para treinar. Eu colocava umas uvas espetadinhas e costurava a pele delas. Hoje os aparelhos de robótica praticamente fazem parte do meu corpo.
O senhor sempre foi assim, obstinado?
Desde pequeno. Aos 13 anos, eu caí do cavalo, e a queda causou uma paralisia do lado direito do meu rosto. Disse ao médico que me atendeu, um professor de neurologia do Hospital das Clínicas, que eu queria ser cirurgião. Ele me aconselhou a procurar outra profissão. Fui para casa abaladíssimo. Meu avô então me repreendeu: “Esquece o que ele disse, não sabe nada. Ele é professor de cirurgia, mas não de gente”. Foi aí que eu mais quis ser cirurgião. Pouco mais de dez anos depois, operei o médico que me atendeu, por uma grande coincidência. Era noite de Natal. Tirei a vesícula dele. No dia seguinte, ele me olhou e perguntou: “O que aconteceu no seu rosto, menino?”. Eu relembrei a história a ele. Ele chorou igual a uma criança. Para mim, o não inexiste. Vou até o fim, sempre. Desisto só se me matarem.
Dr Antonio Luiz Macedo