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E se o amor da sua vida morresse… e a “culpa†fosse da estrada e de uma montanha?

Essa é a história de um homem que não teve tempo e essa é uma daquelas perguntas que ninguém quer se fazer. 
Mas o homem dessa história não teve escolha. A vida colocou essa pergunta na frente dele, com o peso de uma montanha.

O nome dele era Dashrath Manjhi. Ele vivia em Gehlaur, uma vila esquecida no interior da Ãndia. O que ele tinha era ela: Falguni Devi. 
A mulher que ele amava. Que dividia com ele o arroz, o teto e a vida. 

Até o dia em que ela caiu. Um escorregão. Uma pancada forte na cabeça.

Ele sabia que era grave e que ela precisava de um hospital. Só que o hospital mais próximo ficava a mais de 70 quilômetros de distância — não porque fosse longe, mas porque uma montanha gigantesca separava a vila da cidade. 
E não havia estrada. 
Nem atalho. 
O caminho era dar a volta por toda a montanha.

Setenta quilômetros de volta por uma trilha de terra seca, espinhos e calor. Segurando a mulher nos braços. 
E enquanto ele tentava correr, carregar, achar ajuda… Ela morreu e Dashrath ficou.
Ficou com uma casa vazia. 
Com uma cama fria.
Com um silêncio que não parava de gritar.

A morte tem um jeito estranho de nos deixar vivos. E o luto… o luto é uma criatura silenciosa.
Não grita. Não corre. Não chora em voz alta. Mas te espera no canto do quarto, no barulho da chaleira, no cheiro da roupa.

Cada um sente de um jeito. Tem quem desabe. Tem quem endureça.Tem quem se tranque. Tem quem se jogue no mundo.
Mas ninguém escapa.

Porque o luto, mesmo quando silencioso, é sempre pesado e no caso de Dashrath, a dor veio misturada com culpa. 
Culpa por não ter chegado a tempo ou a culpa por ter hesitado. Talvez culpa por ter vivido. 

A culpa — mesmo quando ilógica — tem força.

O desespero, a dor, a culpa e o sentimento de impotência foram tão grandes que ele decidiu fazer sozinho o que ninguém ousou fazer antes: abrir um caminho entre a montanha e evitar, de uma vez por todas, que qualquer pessoa daquele lugar experimentasse o mesmo sentimento.

No dia seguinte, ele pegou uma marreta, uma talhadeira, e foi até a base da montanha.
Era só ele, a montanha e o que restava do amor de um homem profundamente amargurado – se é que podemos nomear o que ele sentia.

As pessoas riram. Disseram que era loucura. Um homem só, enfrentando uma montanha inteira? 

Mas essas pessoas talvez não soubessem o que era acordar todos os dias com o rosto da mulher morta na cabeça. Não soubessem como doía pensar que ela podia estar viva, se o caminho fosse mais curto. Não soubessem do tipo de culpa que não passa. Que não dorme. Que mastiga por dentro.

E então ele foi.
Fez o mesmo trabalho todos os dias.
Por vinte e dois anos.
De sol a sol, ele arrebentava a montanha. Alguns dias com raiva, outros com culpa, outros com dor... Mas em todos eles com saudade. Voltava com os dedos em carne viva, com as costas tortas, com os olhos cheios d’água.
Mas voltava.
Dia após dia, durante duas décadas inteiras, ele carregou no corpo o que não dava mais pra carregar no coração.

E no final, estava lá: Um corte no meio da montanha... A distância, que antes era de mais de 50 quilômetros, virou 15. 

Não adiantava mais pra ela.Mas adiantou pra todos que vieram depois.

Dashrath morreu pobre, como nasceu. Mas deixou atrás de si uma estrada aberta e um amor que não ficou só na saudade. Virou caminho.

Agora me diz: Se a vida partisse o seu coração em dois... Você seguiria em frente? Ou quebraria a montanha?

Por: O Anacrônico 

- O algoritmo é cruel. Mas eu conto história boa. 
Segue aí pra não perder.


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