Sabor a Fel …
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Não sei porquê, mas os meus olhos hoje turvaram-se quando olhei a lua, talvez
porque quando olhei a rua não te vi passar; estão habituados a fixar o seu olhar na
marca deixada pelos teus passos na estrada e na sombra esvoaçada das pontas do
sobretudo que aquece o teu corpo, que hoje por nada verem, ficaram cegos
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Não sei porquê, mas os meus olhos hoje não se riem, talvez porque as pedras da
calçada deixaram de brilhar, deixaram de os alumiar por não sentirem nelas o tão
habitual compassado bailado dos teus passos
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Não sei porquê, mas os meus olhos hoje não gostam das minhas pestanas, talvez
porque eles pensem serem espinhos de rosas
mal retirados do caule da flor do amor
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Não sei porquê, mas os meus olhos hoje não sabem juntar as tuas palavras, talvez
para que não as possa ler, para que não me iludam, e para que também não me
autorizem a ver, se tu calcorreias ou não, a minha rua
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Não sei porquê, mas os meus olhos hoje fecham-se de segundo em segundo, talvez para
não olharem as horas, não sentirem que elas passam, e não se aperceberem de que tu
não vens.
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Não sei porquê, mas hoje sinto os meus olhos humedecidos e salgados com um travo
amargo nas minhas íris, talvez pela falta dos teus, e também por deles ter
deslizado uma pérola cinza, com um sabor a falta de amor
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Não sei porquê,
mas os meus lábios hoje sabem
e têm,
a cor do fel …
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Magá Figueiredo

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