« Anterior 02/11/2025 - 13:32
Texto criado ao som de Fresno - Infinito ♬
"Eu quero fazer coisas bonitas mesmo que ninguém se importe. Plantar flores onde ninguém passa, escrever cartas que talvez nunca sejam lidas, arrumar a cama mesmo que ninguém veja, cozinhar o meu prato preferido só pra lembrar que eu mereço coisas boas, sorrir pra desconhecidos sem esperar nada de volta, reparar no céu e dizer baixinho que ele está lindo hoje, acender velas num dia comum, fotografar momentos que não vão nem parar no meu feed, dizer eu te amo mesmo quando o mundo anda com pressa, dançar sozinha na sala como se fosse o último baile, ouvir histórias que ninguém teve coragem de contar, e seguir acreditando que a vida não está somente no chegar lá, mas no que a gente coloca de bonito no caminho, mesmo que seja só pra nós mesmos."

A Infância, é o meu tema favorito dentre todos que fazem parte da minha história de vida. A construção da criança que eu fui diz tanto sobre a mulher que eu venho sendo, esse espaço entre as mudanças, o meu crescimento e amadurecimento, as novidades, as desconstruções, como é gostoso olhar pra trás e sentir como as transformações me fizeram/fazem ter várias versões de mim pelos caminhos percorridos. Mesmo adulta, ainda carrego comigo as lentes daquela menina franzina, com vestido de flores, franja, presilhas coloridas no cabelo e sempre com os pés descalços na terra. Eu ainda me sinto essa criança, cheia de sonhos, um coração repleto de otimismo e bondade, doçura ao olhar e sorrir, rodeada de gibis/livros, música e fascinada pelo mundo. Quando eu aprendi a ler/escrever, foi um dos feitos mais incríveis, logo de cara eu me apaixonei pelas palavras e todas as suas funções, como elas juntas tinham harmonia, era como se tocassem uma melodia aos meus ouvidos. É interessante que quando comecei a escrever, foi justamente porque eu era tímida, tinha muita dificuldade em me socializar, falar sobre as minhas emoções/sentimentos, e o mais surreal é que eu ainda sou assim, pois na escrita eu alcanço essa fluidez. Sempre fui diferente das outras crianças, não só pelas minhas ações e gestos, mas a forma como eu vejo o universo, como eu leio e interpreto as pessoas. Enquanto boa parte das vezes as crianças gostavam de brincar na rua com as outras, eu achava o máximo ficar em casa sozinha, escrevendo/lendo, assistindo desenhos/novelas, as descobertas das artes era um enigma, me atraia, me instigava, eu tinha devoção por temas complexos e profundos, eu não gostava de nada que era raso e superficial, e me espanto porque eu ainda tenho traços dessa criança, porque eu ainda sou assim, mesmo com o passar dos anos.
Nunca gostei muito de toque físico, sempre tive dificuldade, e isso inclui em todas as minhas relações. Eu colocava objetos e brinquedos enfileirados. Tive problemas na fala quando criança, passei por tratamento com fonoaudiólogo por alguns anos. Tenho ansiedade e insônia. Falo muito sozinha, ensaio conversas antes da interação social, tenho TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) e manias repetitivas como usar sempre os mesmos talheres, dormir do mesmo lado na cama, deitar do mesmo lado do sofá, querer as coisas sempre no mesmo lugar (Sejam móveis, o controle da tv, itens pessoais), tenho muita dificuldade com mudanças, pra eu poder me regular e funcionar eu preciso de previsibilidade e rotina, eu tenho hiperfocos em pessoas e temas específicos e consigo passar horas falando de um tema que eu aprecio, eu assisto a mesma série/filmes várias vezes e isso vale também pros livros e música. Eu tenho sensibilidade a barulhos, cheiros, luzes, comida. Depois de interações sociais, eu preciso de um tempo sozinha pra me recarregar, porque isso me consome muita energia. Adoro ir no mesmo lugar sempre com as mesmas pessoas e tenho costume de usar sempre a mesma peça de roupa ou calçado quando gosto, quando criança e adolescente usava os mesmos até rasgar. Eu peço desculpas repetidamente devido a uma combinação de inseguranças, dificuldades em entender regras sociais implícitas ou por necessidade de evitar conflitos.
Quem acompanha os meus escritos aqui, já devem ter percebido o quanto eu busco o autoconhecimento, para mim saber quem eu sou, é um dos valores que carrego, isso tem sido inegociável, porque quando se sabe quem se é, têm-se relacionamentos mais saudáveis consigo e para com os outros. Como todos sabem, eu faço terapia há anos, e dentre toda a análise nós últimos meses, houve uma suposta dúvida sobre uma neurodivergência, o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Passei por avaliação com profissionais muito competentes pra investigação, e depois de 03 meses, essa semana recebi o laudo com a comprovação do diagnóstico do TEA.
Ser alguém, atípico ou neurodivergente, explica muitas questões que começaram na minha infância e se estenderam pra vida adulta, principalmente por se tratar da construção do ser humano que sou, e mesmo sendo algo novo pra mim, isso me gerou alívio, porque hoje com o diagnóstico mesmo que tardio, explica o porquê deu sempre ter me sentido e comportado de formas diferentes dos demais. Abrir essa parte da minha vida aqui, é muito pessoal e íntimo, porém falar sobre isso, é ser leal comigo mesma, o TEA faz parte de mim, mas ele não é o TODO, isso vai pra além dos traços da minha personalidade. Na realidade esse texto é mais um relato, colocar pra fora o que eu não consegui desde a confirmação do diagnóstico, escrever é terapêutico, me ajuda a processar e a lidar melhor com o meu sentir. Aqui começa uma nova jornada a ser percorrida, com outros grandes desafios pela frente, mas sempre com a coragem de persistir.
No decorrer dos testes realizados pela avaliação do TEA e na terapia fiquei muito surpresa em como os profissionais tiveram a percepção de que eu possuo um alto nível de controle emocional, e que boa parte dos autistas não possuem essa capacidade, talvez eu esteja construindo um equilíbrio entre a racionalidade e os sentimentos/emoções, principalmente por eu ser hipersensível. Ter uma compreensão consciente agora de como o meu cérebro funciona, me trouxe mais segurança e tranquilidade, até me arrisco a dizer que ser diferente, me fez/faz também explorar mais a minha imaginação, criatividade, ter maior capacidade de criação e ideias, ser mais dinâmica. A realidade, é que eu ainda sigo amando os meus traços de humanidade, e acredito que isso só me torna alguém com mais grandeza. Continuar aprendendo sobre mim é a minha maior verdade, e é nessa autenticidade que mora os meus infinitos mais bonitos.

— .(Escrito dia 02/11/2025, às 13:10).


Comentários
Apenas o dono deste FlogVip pode visualizar os comentários desta foto!

Nome:


Mensagem:


    Saiba como inserir os seus Emoticons
/filtronaveia
Sobre * filtronaveia
Goiânia - GO

Presentear FlogVIP
Denunciar

Últimas fotos

02/11/2025


21/09/2025


21/09/2025


15/09/2025


14/09/2025

« Mais fotos


Feed RSS