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Ei, vamos fazer um funk dentro dos nossos corações. Até sermos atacados pelos amores intelectuais da bossa nova. Sairemos nas críticas de um novo Lobato e vamos dizer, felizes, que não sabemos o que queremos e muito menos o que não queremos. Não sabemos de nada, porque não somos o futuro do Brasil. Não queremos ser. Mas se pudéssemos ser o passado, seríamos. Colocarão vírgulas nas falas dos Virgulinos e nos odiarão pela nossa falta de concordância e coerência e formalidade e cacofonia e gerundismo e ambigüidade. É que não fazemos sentido no meio de todo esse modernismo. E também não conseguimos mais inventar a originalidade pela nossa abstração. É porque existe um jeito manjado e adorável de amar. Aquele jeito que tentamos fazer quando você disse que eu deveria ir embora e eu fui. Também tentamos nos desobedecer. Há aquele amor de apartamento que não faz barulho com medo do síndico aparecer. Há aquele amor de quem lê jornal na fila do pão e vira letra de música de banda que todo ano acaba. Há aquele amor de micareta, espalhafatoso, aquele amor que é mais sem graça que piada de papagaio, aquele amor canalha de quem assobia pra moça passando embaixo da construção.. Aquele amor de uma menina nerd e desengonçada que se apaixonou por Platão quando descobriu o platonismo. Já tentamos todos eles, e continuamos tentando. Somos dois pólos negativos. Que se amam. Se atraem. E só não ficamos juntos por motivos de improbabilidade. Notas baixas em matemática porque só é exata a nossa dor e notas baixas em história porque ninguém estudou os olhos vermelhos de quem morreu na Guerra. Eu só quero que você vá lá e diga ao coleguinha da sexta série que se você quiser pintar as suas moitas de azul, você pode pintar as suas moitas de azul. Não que elas realmente sejam azuis, é claro. O importante é sabermos que estamos bordando a loucura. Que estamos exercendo aquele amor de celebridade com 90 anos que ainda usa fio-dental na praia. Vem, que eu quero ser o teu sensacionalismo de domingo. Quero gostar de bagunça e barraco. Vamos tentar vender a nossa alma pelo preço de uma passagem pro Japão. Ganharemos 24h a mais um com o outro. É o amor desesperado. Justo eu e você, que adiamos a nossa vida por tanto tempo.. Treinando o amor como quem treina um maratonista.. Ganha a corrida hoje e amanhã morre enfartado. Qual a graça dessa privação? Se você é minha alergia, eu quero assoprar o oceano de poeira entre nós que evitei aspirar. Se você é minha hipotermia, o Alasca é o melhor lugar. Deixa o nosso maratonista descansar e fazer sexo na véspera da corrida. Não tem problema, deixa ele perder e comemora. Vamos só tentar a sorte de principiante, já que tentamos todos os tipos de sorte do mundo. Temos história, temos rotina, temos passado, e nunca tivemos o corpo livre pra tentar de novo. Só dessa vez, não quero ser um chato preto no branco. Não quero dizer que amo e realmente amar. Quero que você diga pra todo mundo que aquilo no céu não são estrelas, são asteriscos. Eu espero você do lado mais impróprio da vida. Se você quiser chegar até o meu ponto sadio, vai ter que comer as partituras do meu coração. Vai ter que desamarrar os meus sapatos e me embriagar, me arrastar pro samba quando estiver no meu mundo de dívidas e pagando meu orgulho em pequenas prestações. Vamos ser, eu e você, aquele bolo com pouco fermento que uma mulher recém-casada joga no lixo. Porque foi feito com esperança e segredo. Somos exatamente. Secretamente idiotas. Somos amor de funk. E se não der certo, meu bem, tudo bem. Eu choro por você. Exatamente como deveria ser. Mas depois, depois dos pêsames e das regras, eu te faço ser o meu carnaval fora de época, pra que eu diga, e prove, que só é amor o jeito errado que ninguém nunca assume amar.


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