Na maior parte do tempo me sinto um peixe fora d’água ou, melhor, um ET. É tudo muito estranho. Me sinto deslocado, mas já não sinto vontade de fazer sentido ou de me encaixar. Parece que as pessoas desaprenderam a dar bom dia, a conversar amenidades, a ter o mínimo de profundidade. Sei lá, parece que ninguém está disposto a sair do raso. Tá todo mundo meio apressado. Quase ninguém demonstra mais. É tudo muito frio, muito seco, muito distante. Estamos na era mais fácil de nos conectarmos e ainda assim estamos quase que completamente desconexos. A maioria se sente sozinho. Nunca tivemos tantos amigos e nunca nos sentimos tão solitários. Todos os dias conheço novas pessoas. Todos os dias desconheço novas pessoas. No final das contas, sinto que não conheço ninguém faz muito tempo. Trocamos vários “oi, tudo bom, o que você faz da vida?� e duas semanas depois agimos como se nunca tivéssemos tocado alma nenhuma. Continuo achando que ninguém é obrigado a permanecer, mas será que me conheceram a ponto de saber se valeria a pena ter permanecido? Poucas pessoas continuam a ler este desabafo. Reflexo dos tempos. As pessoas estão ocupadas para lerem desabafos. Elas têm os próprios desabafos para desabafar. De vez em quando eu grito. Me sinto sufocado. Acho que tá todo mundo precisando gritar um pouco. Século XXI. Ansiedade, paranoias, pandemias, desinteresse, frieza, estresse, superficialidade, falta de empatia, harmonização de tudo, menos da alma. Estamos no mesmo barco mas quase ninguém quer remar junto. Me sinto um ET. Quero conversas sinceras, um vinho bom e barato, quero falar sobre as teorias mais loucas e sobre músicas que ninguém mais conhece, sobre o clima de julho ou sobre como eu tenho pintas na barriga que formam uma constelação. Deve ser coisa de ET. Procuram-se pessoas que vieram do mesmo planeta que eu.