Nem tudo acontece só dentro da gente (...)

Às vezes não é você. É o outro. É o mundo que anda pesando ao nosso redor. Ainda é o medo de sentir alguém respirando do nosso lado. É o susto na prateleira do supermercado. É não saber muito bem aonde ir depois de tudo que aconteceu. São as mudanças drásticas que ocorrem imperceptíveis dentro da gente. É o sobressalto ao perceber que já não somos mais o que éramos há um ano ou dois meses atrás.
Às vezes é mágoa. São as micro lesões que acontecem de forma tão compassiva que relutamos aceitá-las. É o momento que precisamos enxergá-las como realmente são: Feridas violentas feitas por quem amamos. É quando nos deparamos com a capacidade do outro de nos quebrar sem precisar da nossa ajuda.
Às vezes é o conjunto de tudo: O caos do mundo, os cortes do outro, o penhasco de dentro. São as estradas tortuosas. Os caminhos forçados, as histórias não vividas. As coisas que não fazem mais sentido. É perceber que nem tudo tá aqui dentro, que nem tudo acontece só lá fora.
Às vezes é tanta coisa que fica difícil respirar ao mesmo tempo que se vomita para fora do papel.