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De início, é necessário salientar que a problemática tem suas raízes na naturalização do ato de cuidar como responsabilidade feminina. Isso ocorre porque, antes da entrada da mulher no mercado de trabalho, no século XX, a divisão social do trabalho atribuía à mulher o papel social do cuidado com a casa e com os filhos e aos homens o ato de prover por meio do trabalho externo. No entanto, com as mudanças sociais, cada vez mais a mulher divide o mundo do trabalho com o homem, por outro lado, as atividades do cuidado do lar não são divididas, culminando na sobrecarga para um dos gêneros e na desconsideração dessas atividades como um trabalho, inclusive por não ser remunerado. Desse modo, justamente por ainda haver a naturalização do cuidado como uma obrigação feminina e não como um trabalho, as atividades de cuidado realizadas pelas mulheres no país continuam invisibilizadas.
Ademais, a falta de debate sobre essa temática permite a manutenção dessa invisibilidade. Segundo o filósofo e sociólogo alemão Jurgen Habermas, autor de uma teoria de comunicação, uma sociedade é justa quando há troca de informação entre as instituições sociais, como o Estado e a mídia, e a sociedade. Nesse contexto, percebe-se que faltam iniciativas, especialmente por parte do Estado, em colocar a problemática da sobrecarga do trabalho feminino do cuidado - seja da casa, dos filhos ou da própria comunidade - em pauta. São tímidas as tentativas de debate que evidenciam os números do problema, a exemplo da pesquisa do IBGE de 2019 que confirma que as horas dedicadas ao trabalho doméstico por parte das mulheres é o dobro em relação aos homens, e também os projetos de leis para tentar retificar a situação. Logo, é evidente que essa ausência de debate público sobre o assunto torna a sociedade menos justa às mulheres que sofrem com o não reconhecimento em relação às jornadas duplas de trabalho.
Portanto, para reverter a ausência de debate sobre o problema e a naturalização feminina do cuidado são necessárias ações contundentes. Para isso, cabe à Câmara dos Deputados - responsável pela promoção de leis - a criação de um projeto que vislumbre o pagamento de um salário mínimo para remuneração de mulheres que se dediquem exclusivamente ao trabalho doméstico. Além disso, cabe ao Governo Federal - especialmente o Ministério das Mulheres - aumentar o debate sobre o assunto, por meio de campanhas divulgadas em mídias, como redes sociais, rádio e televisão, a fim de evidenciar a necessidade de corresponsabilidade da divisão desse trabalho.


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