“Toda mulher quando deixa de ter 20, 30 anos, deixa de ser desejada e é trocada por outra mulher mais jovem†essa é uma premissa bastante reforçada pela indústria cultural, em filmes, livros, novelas. Há neste tipo de narrativa um lado que pode ser de denúncia, de crÃtica, mas também existe um risco de que esta própria afirmativa seja um modo de reforço do que supostamente se pretendia refutar. Embora, de fato, haja uma hierarquia estabelecida pelo etarismo, há também um risco quando se generalizam essas experiências. Sabemos que, apesar do padrão ser cis, branco, magro, jovem e sem deficiência, este modelo nem sempre acompanha as diversas expressões dos desejos e afetos na prática. É etarista supor que toda mulher de mais de 40 anos está desconfortável consigo, é preconceituoso assumir que todas pessoas mais velhas têm como objetivo final de suas vidas um adiar do tempo ou ocultarem suas idades. Em muitos filmes, este estereótipo sobre pessoas mais velhas parece dizer muito mais das pessoas jovens que o contrário. Estes jovens sim, parecem querer crer que são tudo que os mais velhos gostariam de ser, que são invejados, cobiçados. Antes de dizerem que não irão se interessar por quem não seja padrão, esquecem que quem é dissidente é que pode não os querer, que cada pessoa deve ser reconhecida como sujeito, como gente. Quando uma pessoa mais velha é “trocada†afetivo-sexualmente por uma mais jovem, esta que é jovem também está sofrendo um certo tipo de violência, afinal, continua sendo reduzida à sua idade. Segue não sendo reconhecida como pessoa, em sua singularidade. Quando dizem “Beleza passaâ€, querem dizer que juventude passa, mas beleza e juventude não são a mesma coisa. Uma folha que um dia foi verde e hoje é marrom não é menos bela por isso, a beleza continua com a gente, em transformação.
— Geni Núñez