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Me conta da tua janela ♬ {Parte 01}
Oi Vó, Bençã! Como você está? Encontrou o Vô Paulo, o Vô Arestides e os seus pais? Os abraçou? Teve conversas profundas com Deus? Os seus olhos azuis ainda iluminam e brilham por onde passa? A senhora virou um anjo? Consegue ver as estrelas e a lua bem de perto, se abrir a janela do seu quarto? Tem tomado o seu remédio pra diabetes? Ainda come pão bisnaga com iogurte no lanche? Se ajoelha quando ora e pede saúde pelos seus?
Ah Vó, tem tantas coisas que eu quero te contar, e tantas outras que eu gostaria de saber de você. A senhora me faz muita falta, principalmente nos dias frios, quando fazia chá de erva cidreira com bolinho de chuva pra gente comer entre as nossas conversas, aliás eu nunca mais comi bolinho de chuva depois que você se mudou para o céu. Daí de cima quando chove, você ainda os faz? Todas as vezes que eu chegava na sua casa e você me oferecia algo pra comer, eu sentia que aquele pedido era um convite pra felicidade, e foi assim por anos. Nossas conversas nunca tiveram um fim, e eu ficava horas ali te ouvindo contar suas histórias, sobre o Vô, a sua infância, a sua criação, os seus pais e até mesmo sobre a minha mãe e as minhas tias, que eram as minhas histórias preferidas. E honestamente mesmo depois de ter passado muitos anos, ainda sinto que as nossas conversas são infindas. Quando a saudade aperta muito aqui, eu escuto aquela marchinha de carnaval da chiquita bacana, que você me apresentou, pra um trabalho da escola, e se eu fechar os olhos, ainda consigo ouvir a sua voz cantando ela pra mim. Ainda me lembro de tanta coisa quando se trata de você. Quando eu vou ao mercado e vejo nas prateleiras pão de mel, peito de peru e o suco de uva em garrafa, dou aquele sorriso, e me recordo que eram coisas que nunca faltavam na sua geladeira/armário. Como a senhora adorava estar rodeada das suas plantas, galinhas, pés de jabuticabas, se misturava no quintal, criou raiz ali, e dentre as rosas, é a que mais se destacava pelo perfume e delicadeza. E nesse mesmo quintal eu cresci, vivi as minhas primeiras aventuras com direito a arranhões e cicatrizes e alguns dilemas também!
Vó, acredita que a sua neta está prestes a se tonar uma engenheira? Nunca me esqueci o quanto a senhora fazia questão que os seus netos se dedicassem aos estudos e sempre dizia que isso sim era uma das maiores riquezas da vida, e saiba que todos se saíram bem, você tem netos incríveis e aliás cada um tem seguido o seu propósito. Vó, eu ainda tenho muitas perguntas sem respostas na minha vida, por exemplo eu ainda tenho grandes dúvidas se quero ter filhos algum dia, mas eu me tornei uma mãezona de pet e confesso que não me saí nada mal, mas uma coisa é certa, eu quero ter com quem compartilhar a vida, almejo construir uma família mesmo que nada convencional. Aliás Vó, eu faço terapia há alguns anos e com isso, eu tenho me curado das minhas feridas de abandono e rejeição vindas do meu pai, falando nele a nossa relação continua a mesma, cada um na sua, mas que eu já entendi e aceitei as coisas como são. Mas ao contrário, a minha relação com a minha mãe melhorou muito, depois que tive conversas duras e necessárias, ambas estão amadurecendo e crescendo juntas! Depois que eu busquei ajuda profissional, eu entendi o tamanho da minha grandeza, eu fiz as pazes com tantas partes minhas, claro que isso é um processo, mas eu sinto que estou no caminho certo, e acima de tudo, estou sendo honesta e transparente comigo, o autoconhecimento tem me ajudado a construir relacionamentos saudáveis tanto para comigo, quanto para com os outros. Vó, de uns anos pra cá, eu tenho olhado no espelho e me amado tanto, como mulher e ser humano, eu ando me apaixonando cada vez mais por mim, e admiro a mulher foda que eu tenho me tornado, e como eu tenho feito várias movimentações pra construir o que eu almejo pra minha vida, e ando feliz à beça com tudo isso. Aliás hoje eu sou uma mulher assumidamente emocionada, eu conheci uma escritora que graças à arte dela, eu pude trabalhar o meu "Sentir" e como bancar o que transborda aqui dentro, claro que tudo isso se deu com a terapêutica também, foi um combo, as coisas se transformaram. Só sei que eu tenho um orgulho absurdo de mim, eu sei lidar melhor agora com a minha intensidade, ansiedade, meus sentimentos e emoções. Eu aprendi a me perdoar, me priorizar, me escolher e a me acolher, mesmo nos piores dias, e que por mais que eu tenha partes quebradas e que às vezes eu tenha dificuldades em lidar com as minhas faltas, eu compreendi que elas são somente da minha responsabilidade, fazem parte de mim, eu as trato e as cuido com toda atenção, carinho e gentileza. Quando eu me acolho, eu me aceito, e com isso tenho construído relações mais honestas para comigo, e com os demais. Mas eu confesso, que chegar até essa desconstrução, esse amadurecimento, não tem sido fácil, eu tive e ainda tenho conversas duras comigo mesma, acordos e desacordos que seguem sendo revistos e ajustados. Eu tenho me proposto uma vez no mês a sentar, me conectar comigo mesma, e ver se as minhas escolhas ainda fazem sentido pra quem eu sou no atual momento. Crescer, ser independente e responsável, se tornar adulta, muitas das vezes, traz um cansaço emocional, uma bagagem lotada de frustrações, medos, receios, renúncias, expectativas. A vida não vem com manual de instruções, e eu tenho aprendido que pra lidar com essas questões, só consigo de fato sendo humana, sentindo tudo com afinco, e tendo essas dinâmicas individuais, e principalmente me conhecendo mais a fundo.

— .(Escrito dia 14/02/2025, ás 18:06).


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