Se tem uma pergunta que sempre volta e meia surge na minha cabeça, é o porquê eu escrevo, pra quem, qual o objetivo real, o que eu almejo alcançar com as minhas palavras. São muitas respostas pra essas indagações, mas dentre todas as respostas que eu poderia retratar aqui, tem uma em especial, que eu aprecio mais: A escrita me mudou da forma como abrir uma janela modifica uma sala escura. Em tudo o que faço, através da linguagem oral ou da escrita, há o interesse de escutar o outro como parte de uma interlocução benéfica a todos os envolvidos. Sou encantada pelo ato de viver e navego pelos dias recebendo com a mesma intensidade os raios de sol dos momentos mais agradáveis e as nuvens cinzentas das maiores marés turbulentas. Exatamente por ser intensa, sou hipersensível, conecto-me a existência com grande capacidade de perceber e ser impactada pela essência da árvore que existe em mim, uma árvore cheia de raízes, onde há flores, frutos e grandes colheitas, que eu sigo as cultivando e as cuido para florescer comigo seja em quaisquer estações do ano. Vivo como uma pessoa que se importa com o que é coletivo, com o que é verdade em um tempo tão dolorosamente injusto e nada gentil com tanta gente. Sou amante da arte, sobretudo das artes cênicas, da literatura e da música, você vai perceber que meus textos são recheados de citações destes temas, porque a arte muitas vezes comunica coisas que a ciência tenta, mas jamais consegue com tamanha eficiência simbólica. As palavras tem a capacidade de envolver a indefinição em uma moldura, enquanto falamos, vamos dos dando conta de sensações que talvez nem soubéssemos que já estavam prontas para serem nomeadas. Eu aprendi de forma saudável, que eu me entendo como uma pessoa que ama ter diálogos, da mesma forma que adoro brincar, me sinto mais leve, inclusive, para mim até hoje, conversar é uma forma de brincar de viver, de estar junto num tanque de areia imprevisível, em que o encontro fará acontecer alguma mágica, é como abraçar alguém ou a si mesmo, com a sua autêntica maneira de existir. Eu concebo a vida, como uma aventura que se faz junto, nós precisamos sim, de espaços privados para reflexão e silêncio, mas também temos que compartilhar e partilhar, e fazer as palavras se transformar em encontro. Nas entrelinhas, acho que o que une todas essas coisas é um fragmento do desejo de descobrir, compreender e valorizar a realidade, uma vontade de ver e aprender a existir no mundo. Aqui começa a estrada, onde eu me fiz nascente.
Fim de tarde. Céu de brigadeiro. Tão bonito e simples. Devo ser umas das raras pessoas que ainda olha o pôr do sol, que deita sobre um céu estrelado e conta estrelas, cobertos pelo universo e lotada de corpos celestes de hidrogênio e hélio. Sim, somos pedaços de estrelas. �tomos, nada mais do que átomos, como nós. Que não se criam, apenas se transformam e se recriam em corpos diferentes. É, as estrelas também ouvem o que não dizemos. É por isso que nos sentimos infinitos por baixo delas. Eu sou o tipo de pessoa que pára e ouve o ruído da chuva, que adora o cheiro de terra molhada, a forma como as formigas e os pássaros se esforçam pra construírem suas casas. De fato, sou diferente, sensível demais a certos acontecimentos, coisas do cotidiano, as tantas paisagens e cenários para admirar, onde de fato a vida insiste em acontecer. É bonito, não? A escrita as vezes é assim, primeiro escrevemos, depois entendemos o que escrevemos. Hoje, tento simplesmente confiar na escrita, como confio na realidade, e, quando consigo, não costumo me decepcionar com o resultado. É bom olhar para além do que é concreto, em todos os sentidos. Olhar além do que podemos alcançar com a ponta dos dedos. Se perder naquilo que só se toca com a mente, se mostrar pra si e para o mundo através da forma que o enxergamos e da maneira que nos vemos. O pensamento coletivo é uma das formas de transformar os espaços em que vivemos e alinharmo-nos ao coração, como um abraço consciente do que realmente acreditamos.

— .(Escrito dia 16/03/2025, ás 19:11).